Neste sábado, tivemos na sede do Serpajus em Novo Gama, um evento da Semana Universitária da Universidade de Brasília, o I Sarau Cultural no Pedregal. Em meio a apresentações de músicas, leituras de textos poéticos e reflexivos sobre a contemporaneidade e contação de histórias, formou-se uma temática interessante "A reflexão sobre a relação ou as relações de Mulheres e Homens com a natureza". Tendo em vista que o simples ato de arrancarmos uma flor do chão, já modifica, interfere nessa relação, me lembrei de um poema que fiz relatando um dos momentos que temos em nosso cotidiano com a natureza. Discutiu-se que o poema trata da culpa por ceifarmos a vida de flores ao a arrancarmos da terra, sendo que o ideal seria que a mantivéssemos viva, cuidando desse bem que não nos pertence, mas do qual fazemos parte, a natureza. Por fim, Luiz demonstrou que ao arrancarmos um Dente-de-Leão do chão e o soprarmos ao vento, estamos além de ceifando a sua vida, ajudando-o a reproduzir-se, pois o vento espalha suas sementes para outros locais permitindo então a sua germinação e reprodução. Porém, creio que o Dente-de-Leão seja uma exceção, ainda precisamos refletir sobre a natureza, não apenas falando dela, mas falando com ela. Um caminho para a preservação da Natureza é o diálogo, um aprofundamento da relação entre Humanidade e Natureza.
Texto de Sara Meneses
Dente-de-Leão
Sinto-me culpada.
Caminhava pela rua quando o avistei,
me aproximei e o arranquei do chão,
ceifei sua vida.
O coloquei em minhas mãos
e o acariciei com meu rosto.
Não consegui mais soltá-lo.
Aquele ser jazia morto em minhas mãos,
inerte por minha culpa.
O toquei e parte dele soltou-se e o vento levou.
Sofri com tal gesto, tamanha era minha culpa.
Me arrependi disto.
Agora ele não sai de minhas mãos,
sua forma e sua morte me martirizam.
Sua beleza logo findará.
Caminho pelas ruas com o ser em minhas mãos
e as pessoas não notam meu crime.
Seu corpo morto em minhas mãos.
Neste momento estou a olhá-lo,
e em mim a culpa pesa e arde.
Ceifei sua vida no auge de sua beleza,
pois é isto que as pessoas fazem.
Já não posso mais te conter em mim.
Se o soprarei? Eu não sei.
Dente- de- Leão
te perdi antes mesmo de tê-lo em mim,
o vento te leva para longe de mim,
já não suporto a distância,
dê-me algo para que eu possa distrair meu coração,
enquanto procuro-te nos jardins e olhares do mundo.
Poema por Sara Meneses.
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